domingo, 21 de fevereiro de 2016

Um dia de ciclagem rápida


Assim começo o dia; abro os olhos só o suficiente para colocar o despertador do celular no modo "soneca", assim descanso mais dez minutos, mal me viro para voltar a dormir, o celular soa novamente, desta vez, inconscientemente deslizo o dedo para o lado inverso e termino por desligar o despertador. Acordo num sobressalto, desorientado, não escuto o despertador, mas já imagino que perdi a hora; olho o telefone e confirmo a suspeita, estou uma hora atrasado. Enquanto levanto meio grogue, por não ter dormido mais que cinco horas, minha cabeça pelo contrario já está a mil; tenho de resolver esse problema, visitar o cliente tal, passar no banco, conferir a amostra que provavelmente estará  errada,  ligar para fulano... Tomo banho tentando planejar como vou fazer tudo isso, e em vez de organizar mentalmente as atividades do dia, me aparecem mais atividades que não lembrei  antes, assim toma força o pensamento que não vou conseguir fazer tudo no dia, ainda mais estando atrasado, e ai; a ansiedade toma o controle.

Estou mais ansioso, remoendo tudo o que tenho a fazer no dia e um pouco irritado por estar atrasado. A irritação não é pelo atraso em si, mas pelo fato de tomar café correndo; eu tenho um ritual pela manhã e se não o faço, meu dia não começa bem. Tomo pelo menos três cafés expressos (já diminui em 2/3 a dose matinal) enquanto olho futilidades no computador, nesses quinze ou vinte minutos que fico alheio à realidade, sou capaz de relaxar, mesmo que por apenas quinze minutos. Assim, preparo meu primeiro expresso e vou para o computador; toca o celular; só o barulho da chamada já me irrita, levantar para pegar o celular, me irrita mais, ver que é o chefe ligando, fico irritadíssimo, atender o telefone e ter que ficar parado para não cair a ligação, chega a dar uns tiques, dá a impressão que todos os músculos do corpo vão explodir. Durante a conversa, cada pedido que ele me fazia, trazia um pouco da ansiedade de antes e misturava com a irritabilidade de agora e a cada pedido que ele fazia e eu tinha de explicar por que não daria certo, eu lhe deixava bem claro o meu grau de irritabilidade.

Preparo o segundo café em um estado de ansiedade e irritabilidade altíssimo. Bebendo o café, olho qualquer coisa no computador, abstraio-me levemente da realidade e já vejo as tarefas do dia sem tanta ansiedade, a tensão vai diminuindo. Quando estou no terceiro café e sem dar-me conta, me deparo catatônico, imóvel, olhando fixamente a tela do computador, sem perceber as bolhas do protetor de tela, que já se movem a um bom tempo. Meu corpo está estático, mas os pensamentos estão viajando,  a caminho da terra do poderia ser. Penso sobre um fato recente, que abala meu humor muito negativamente;  continuo com esse pensamento negativo por alguns minutos, o tempo suficiente para que a luta entre, os pensamentos negativos e involuntários, contar os pensamentos moderadores e voluntários seja ganha pelos primeiros. A partir de agora, a agitação da ansiedade cedeu o lugar à apatia da melancolia.

Permaneço mais um tempo sentado a frete do computador e aquela ansiedade de como fazer tudo, vai dar tempo, vou conseguir, agora se traduz como tanto faz. Saio de casa com o pensamento de cumprir a missão e regressar o mais rápido possível; funciona assim, se tenho que retirar uma amostra, vou até o lugar que amostra está, falo o mínimo necessário e vou para o próximo destino. O normal seria conversar com quem desenvolveu, ver os outros desenvolvimentos em que fase estão,  fazer uma media como o dono e etc., mas hoje, para abrir um simples sorriso, que geralmente vem fácil, tenho que me esforçar e botar conversa fora esta além das minhas capacidades. Enquanto dirijo tampouco presto atenção no rádio, ou na rua, fico como em casa, com os pensamentos longe da realidade. Enfim, consigo cumprir todas as obrigações do dia, coisa que pela manhã parecia impossível e ainda cheguei em casa um pouco mais cedo, tudo que eu queria quando sai, voltar o mais rápido possível.

Já em casa, aquela pressa para voltar não se justificativa, não havia nada para fazer, ninguém me aguardava, era exclusivamente pela sensação de proteção que o lar traz. Continuava cabisbaixo da mesma forma de quando sai, mas agora em casa, sozinho, sem nenhuma distração, os pensamentos negativos fluem com mais facilidade. Só enxergava uma maneira para escapar deste tormento, desta melancolia e terminar logo com este dia, precisava dormir. Já fazia um mês que havia começado a correr, sendo que muitas vezes corria na esteira, em casa, assistindo séries no Netflix, no caso Hannibal. Comecei a correr, depois de pouco tempo, me sentia bem, decidi aumentar o ritmo, continuei correndo com facilidade, mantive o ritmo acelerado, acabou o episódio, mais ou menos quarenta minutos, troquei para a tv aberta, passava o programa Cidade Alerta, corri mais vinte minutos, acabou o fôlego, mas sobrou um sorriso no rosto, me sentia leve, revigorado, em paz.

A ideia inicial era correr, tomar banho, comer e dormir, afinal, a corrida tinha o intuito de cansar-me para dormir, terminando assim um dia em nada bom, mas, não foi bem assim; antes do banho, resolvi arrumar uns cômodos da casa, que fazia meses estavam bagunçados. Gosto das coisas organizadas, mas o ânimo e a energia para organiza-las, é escasso em mim, algo muito raro; mas agora era a hora, ao som da banda Ira!, arrumei três quartos da casa. Depois, que sensação agradável, ficar parado, admirando tão grande façanha! Terminada a arrumação fui tomar banho, continuei escutando Ira! e me chamou atenção a musica Milhas e milhas, que depois ouvi algumas vezes na sequência.

A próxima etapa depois do banho seria comer e mesmo aquela fome, comum após exercícios físicos havia passado, estava sem fome, mas bastante irrequieto, precisava fazer algo; coloquei umas roupas para lavar e enquanto as roupas lavavam, por que não arrumar a cozinha. Nesse momento eu não tinha ideia do que eu estava fazendo, mais tarde, pelas duas da manhã, eu tinha arrumado a casa inteira e lavado três maquinadas de roupa, fora os episódios de Lie to me que assisti, pois não tinha sono. Pode não parecer muito, mas para eu lavar uma cesta de roupas e depois estender, preciso estar muito bem disposto, só de pensar em estender as roupas já me desanima. Enfim dormi umas seis horas e o dia seguinte foi um dia sem oscilações do humor, vai entender...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Frases ao léu - IV

"Em vez de sentir empatia por sua dor, que certamente era tão grande quanto a minha – ou mesmo maior –, encarei seu sofrimento como uma afronta, um sinal de que ela não podia mais tolerar o quão debilitada eu ficara por causa da doença."

Insana – Susannah Cahalan

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Insana no carnaval

Carnaval, nunca entendi a alegria dessas pessoas que aparecem na televisão, mas me alegra o feriado, o não fazer nada; assim vou, sem nenhum sinal de mania, longe da hipomania, tampouco depressivo, ansiedade zero e para completar, também parei de beber. Ah, também não estou dopado, tomo 300mg Wellbutrin e 1200mg Carbolitium para 0,6 mEq/L. Muito "louco" me sentir assim, será que é a essa sensação,  que muitos se referem, dizendo que os remédios os deixam "robotizados", "sem vida"?  – Me sinto bem. Sempre busquei novidades e isso é uma grande novidade.

Lá estou, esperando o tempo passar na livraria do aeroporto e por acaso acho o livro "Insana, meu mês de loucura da Susannah Cahalan"  que me chamou a atenção primeiramente pela similaridade da capa com a do livro "Uma mente inquieta da Kay Redfield Jamison" e depois de ler a contracapa me decidi a compra-lo; gosto de narrativas sobre a própria pessoa e o tema superação de doenças mentais tem me atraído.



      



O livro Uma mente inquieta, fala como a autora, que tornou-se uma autoridade sobre a doença,  lutou durante a vida, contra a psicose maníaco-depressiva, termo que ela prefere por não suavizar a real realidade da doença. Excelente livro.

Já o livro Insana, conta a historia de uma jornalista que subitamente começa a apresentar diversos sintomas como psicoses, mudanças bruscas de humor, mania perseguição, tiques, problemas na fala, convulsões... O ponto central do livro é: - A doença que sofre a autora deve ser tratada pela psiquiatria ou deve-se buscar a resposta em outras áreas? Muito bom este livro.

Esse é o ponto onde queria chegar, sendo a bipolaridade uma doença inflamatória, estamos longe da cura tratando-a como doença psiquiátrica ao invés de tratar a inflamação?

Para ter uma ideia da sutileza entre um tipo de tratamento e outro, o livro Insana é bem interessante. Como já terminei o livro, vou curtir o finzinho do carnaval, uhu... :)