domingo, 11 de setembro de 2016

Frases ao léu VII


"... a diferença entre a educação antiga e a nova será muito significativa. Enquanto a antiga promovia uma iniciação, a nova apenas "condiciona". A antiga lidava com os alunos da mesma maneira como os pássaros crescidos lidam com os filhotes quando lhes ensinam a voar; a nova lida com eles mais como o criador de aves lida com os jovens pássaros – fazendo deles alguma coisa com propósitos que os próprios pássaros desconhecem.  Em suma, a educação antiga era uma espécie de propagação – homens transmitindo a humanidade para outros homens; a nova é apenas propaganda."

C. S. Lewis  - A abolição do homem

domingo, 21 de agosto de 2016

A Jornada com os remédios II


Parte I

O surto foi psicótico com ideação suicida e uma bagunça enorme; mistura de estado emocional negativo, rivotril e álcool. Ainda não consigo relatar com detalhes o surto, apenas três amigos sabem com detalhes a historia completa.

Após o surto, fui internado, depois de um dia quando já estava voltando à realidade, me dei conta de onde estava; olhando a situação ao redor, pessoas em estados mentais piores que eu, fiquei com medo de ter que ficar internado por pelo menos dez dias. Sorte que meu pai confia muito em mim, pedi para sair dali já no primeiro dia e aceitou, não imagino como seriam os dez dias que teria que passar lá.

Saindo da internação troquei de psiquiatra, relatando o caso para o novo psiquiatra, ficou claro para mim e para ele que eu tinha transtorno bipolar. Foi me receitado o lítio.

O lítio nos primeiros dias dá uma sensação estranha, da uma embaçada na vista na hora de ler, como que se misturassem as letras e após quarenta  minutos depois de tomado é perceptível à sensação que ele esta fazendo efeito, dá um certo baque na cabeça, já com o passar do tempo esses dois sintomas sumiram. Comecei a sentir os efeitos positivos depois de duas semanas e gradativamente foi melhorando meu estado de humor por quase dois meses.  Quando o humor estava estabilizado começaram outros efeitos colaterais do lítio, saíram espinhas no rosto e nas costas, que foram curadas com uma pomada especifica.  O lítio também deixa a urina bem fedida e causa certo bafo às vezes, mas da forma como estabilizou o humor os efeitos colaterais apesar de parecerem enormes são facilmente controláveis.

Depois de estabilizado com o lítio, restava ainda uma hipomania leve, mas constante e ai entrou a olanzapina. A olanzapina foi ótima já desde o principio, era tomar o comprimido, contar quarenta minutos e dormir, estabilizou como nunca meu sono, comecei a dormir na hora certa coisa que nunca fiz, sempre tive insônia, e o reflexo de uma noite bem dormida no humor é enorme. Além da qualidade do sono a olanzapina zerou aquela hipomania que persistia, hoje estou com o humor controlado como nunca tive.

O único efeito colateral da olamzapina foi que criou umas placas na cabeça, como uma caspa gigante, que também através de um shampoo específico desapareceram rápido.


Assim termina a jornada com os remédios até o dia de hoje.

domingo, 29 de maio de 2016

Querido diário - 29/05/2016


Sábado final de tarde e nada de muito motivador para fazer, normalmente eu leria por horas até o sono chegar, ler sempre foi meu melhor passatempo, viajo sobre os mais diversos assuntos, adestramento de cães, blacksmith, filosofia, religiosos, contos de fadas... Cada época fico bom em algo diferente que logo deixo para trás... Mas hoje, não consegui ler nem dez páginas, estou com uma leve angustia, que não sei o motivo certo e não consigo me concentrar.


Domingo, fui à missa e rezando me lembrei de que há um ano, o que eu pedia eram forças para me livrar de pensamentos como ódio, vingança, raiva com o intuito de assim "desatormentar" minha cabeça que estava com uma ansiedade extrema, ai, hoje percebi que há tempos me livrei desses pensamentos e agora parece que ficou um vazio, um espaço a preencher em minha cabeça, que igualmente me causa ansiedade, só que de forma moderada, suportável, mas ainda assim ansiedade.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Monitorando os humores diarios


Tenho usado o Emoods, um app que  permite cadastrar como foi seu humor no dia (depressão, mania, irritabilidade e ansiedade) e por fim,  gera um gráfico dos humores do mês. Olhando o gráfico dos meus humores do mês atual, vejo que passei o mês sem grandes oscilações de humor.


    

sexta-feira, 22 de abril de 2016

A jornada com os remédios I


Era uma vez, um cara com uma depressão muito forte, depressão essa, que fazia ele sentir-se inferior aos outros; um dia almoçando em um restaurante, ele olhava as pessoas e percebia como elas eram bem sucedidas e felizes, e como ele era fracassado. Ele também estava muito ansioso, sua cabeça não descansava um minuto sequer, chegando ao ponto de ter princípios de pânico. Para terminar, ele também tinha algumas psicoses, relacionadas ao antigo relacionamento e a religião.

Mas ele também tinha virtudes, mesmo não sabendo, em meio a essa terrível depressão, ele tomou a difícil decisão de parar de fumar; foi quando a pneumologista, percebendo que ele estava um pouco deprimido, por mais que ele disfarça-se bem todo o caos que estava sua mente, lhe receitou a bupropiona, que lhe ajudaria a parar de fumar e ajudaria a sanar a depressão. Tomou a bupropiona da forma indicada e no final da segunda semana parou de vez com o cigarro, atitude corajosa, a ansiedade chegou ao estremo suportado, pela falta do cigarro e devido à bupropiona, que causa certa ansiedade no começo do tratamento para só depois agir como ansiolítico, foram dias terríveis, difíceis de descrever, a ansiedade estava presente durante todo o dia, e os problemas ficavam dando voltas e só os pensamento negativos tinham vez, qualquer bater de assas de uma borboleta já era motivo para irritação, pela noite, ia dormir a meia noite com a cabeça a mil e às quatro da manhã já acordar com a cabeça aceleradíssima, pensando nos piores cenários possíveis. Passando o tempo, lá pela quarta semana, a vontade de fumar estava sobre controle, apesar de ainda existir e a bupropiona começou a surtir efeitos positivos; a ansiedade que sempre o acompanhou estava desaparecendo ao ponto dele ficar maravilhado de estar parado no transito e nada da ansiedade o importunar. Foi necessário mais um mês para a depressão começar a diminuir, era possível notar a remissão em coisas simples; tarefas de casa, pensamentos positivos, até o tão falado dia cinzento passou a ensolarado, a depressão levou cerca de três meses para abandona-lo.


Estava tudo maravilhoso, até que um dia ele surtou...  

Parte II

quarta-feira, 30 de março de 2016

Frases ao léu - VI

"Uma grande roseira crescia junto à entrada do jardim; suas flores eram brancas, mas três jardineiros estavam à sua volta, pintando-as de vermelho. Alice achou aquilo curiosíssimo e se aproximou para observá-los... 
..."Poderiam me dizer", perguntou Alice, um pouco tímida, "por que estão pintando essas rosas?" 
O Cinco e o Sete nada responderam, mas olharam para o Dois. Este começou, falando baixo:" Ora, o fato, Senhorita, é que aqui devia ter sido plantada uma roseira de rosas vermelhas, e plantamos uma de rosas brancas por engano; se a Rainha descobrir, todos nós teremos nossas cabeças cortadas. Assim, Senhorita, estamos nos virando como podemos, antes que ela chegue, para...""

Alice – Lewis Carroll

sábado, 26 de março de 2016

Pretérito Imperfeito – II (Impulsividade e autoestima altas)


Ah, meus vinte anos! (Quando ainda não tivera depressão)

Com o passar do tempo acabamos aprendemos (moldando-nos), às vezes forçados, às vezes sem nós darmos conta e às vezes por vontade própria,  abdicamos de muitos comportamentos, adaptamos alguns e aprendemos novos comportamentos, e o ciclo natural da nossa evolução, isso em alguém são. Mas, quando entra a depressão, a vontade própria é anulada e você começa a ver o mundo através de uma lente, talvez não de uma lente que torne o mundo acinzentado, mas, como se tirassem os óculos de um míope ou os pusesse em alguém que não os precisasse usar, você acaba não vendo o mundo a sua volta, toma decisões encima de algo que não enxerga na totalidade; e com o passar do tempo, vocês esquece como era o mundo e passa a achar normal o mundo disforme e desfocado atual.

Ahhh! Como eu queria ter ¼ da impulsividade e da autoestima que tinha aos vinte anos!

Certa noite, eu e um amigo (dos dois que tenho), fomos a uma casa alternativa em SP, no Matrix, olhei agora na net e vi que ainda funciona, na época era bem o começo do bar. Sempre gostei de gurias diferentes, nunca me senti atraído pelas que tem o padrão "Barbie" de beleza, mas as com piercing, tatuagem, cabelos coloridos, que tomassem todo tipo de droga essas me atraiam, e lá era um bom lugar para encontra-las.

Quando álcool, hipomania e som alto se juntam, chego bem perto do limite; passamos a noite bebendo e conversando ora com uma ora já com outra, meio agitado, um tanto desinibido, nada que chamasse a atenção no lugar, afinal, eu era um dos mais certinhos...

Já tarde da noite, a casa havia esvaziado e nós continuávamos bebendo no balcão, daí espiei a pista e vi uma guria dançando e uns seis caras dançando em volta dela e a guria nem ai pra eles, achei a cena engraçada, em seguida, virei o pouco que restava da cerveja e disse ao meu amigo que iria lá; desci da banqueta alta e caminhei tranquilamente até o centro da pista, chegando lá, pedi licença para um dos estavam em volta da guria, que de pronto perguntou-me o que eu queria, não lhe dei atenção, só lhe disse que eu estava com ela, nesse momento ela me olhou e eu lhe grudei um beijo, pronto, a pista esvaziou-se, ficamos um tempo mais ali e fomos para o bar.

No outro dia, meu amigo me contando que ele e o barman assistiram a cena toda, fazendo apostas, no principio pensaram que ia dar confusão, depois que eu não conseguiria, por fim meu amigo disse ganho uma cerveja do barman.


PS. Poderia ter dado muita merda, por isso que hoje me contentaria apenas com  ¼ .

domingo, 20 de março de 2016

Frases ao léu - V


"... Empilhou no chão as roupas e, por cima delas, atirou o dinheiro. Voltou-se em seguida, para o bispo e recebeu-lhe a bênção, como alguém que vira as costas à sociedade; e, de acordo com o relato, saiu como estava ao ar frio do mundo..."

São Francisco de Assis – G. K. Chesterton

segunda-feira, 14 de março de 2016

Ciclagem rápida, flagelo e psicodelia

Estava tendo episódios de ciclagem rápida no mesmo dia, uma hora batia uma depressão, que muitas vezes me fez voltar para casa, trabalho de carro na rua, tal o desanimo e a tristeza que eu sentia, muitas vezes segurando uma crise de choro até entrar em casa, e assim, de uma hora para outra, já estava recuperado e fazia todo o trabalho que havia deixado por fazer, quando me senti deprimido, ficava em um estado de hipomania que gosto de sentir. Acrescentando a isto, eu estava em um grau de irritabilidade até perigoso, onde simples mau entendido poderia acabar em uma explosão de fúria; sorte que não houve nenhum.

Nunca fui de tomar Clonazepam mas quando me sentia nervoso, tomava meio comprimido de 0,5mg, no máximo um, pra mim era o suficiente;  nesses dias de ciclagem rápida, tomava um, dois, três, quatro, até mais e não me acalmava; foi ai que tive uma brilhante ideia, que a dor física substituiria a emocional e lembrei daqueles penitentes que se mortificam com um chicote; peguei um cinto de couro com alguns rebites e comecei a bater nas costas, primeiro com pouca força, aumentando depois até o limite da minha força, cada golpe ardia bastante mas não machucava, ai tive a Ideia, acertei umas seis vezes minhas costas com a parte da fivela, aquilo doeu, machucou e ao terminar sentindo a dor das fiveladas, estava calmo, até diria feliz, o tormento desapareceu naquele momento só ficou a dor agradável nas costas.

Passado uns dias fui ao psiquiatra, não contei das cintadas, mas como já havíamos conversado sobre essas variações do humor em outras ocasiões, ele me receito 5mg de Olanzapina, assim estou tomando, 1350mg de Carbolitium, 300mg de Bupropiona e os 5mg de Olanzapina. Já pelo quinto dia a Olanzapina mostrou efeito, o humor está mais estável e tomando a noite junto com o Lítio o sono vem fácil, o único efeito colateral que foi aumentado foi o tremor nas mãos, erro varias letras quando digito no celular, espero que passe!

Enfim, certa noite, depois de começar com a Olanzapina, tive um sonho psicodélico, mas parecia que eu estava acordado pois tinha certo controle sobre o sonho.  Difícil descrever, eram como fotos Polaroid que vinham em minha direção sobre um fundo negro e eu tentava desvendar a imagem, conseguia de algumas, mas da maioria não, depois as fotos cessaram e deram lugar a engrenagem em 3D com, cores fluorescentes e que giravam sem encostarem umas nas outras e em velocidades e sentidos variados, estava hipnotizado olhando elas girarem. Disse no começo que tinha certo controle e durante as engrenagem pensei nas fotos e elas voltaram a aparecer.


Será que vou sonhar esta noite?  :)

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Um dia de ciclagem rápida


Assim começo o dia; abro os olhos só o suficiente para colocar o despertador do celular no modo "soneca", assim descanso mais dez minutos, mal me viro para voltar a dormir, o celular soa novamente, desta vez, inconscientemente deslizo o dedo para o lado inverso e termino por desligar o despertador. Acordo num sobressalto, desorientado, não escuto o despertador, mas já imagino que perdi a hora; olho o telefone e confirmo a suspeita, estou uma hora atrasado. Enquanto levanto meio grogue, por não ter dormido mais que cinco horas, minha cabeça pelo contrario já está a mil; tenho de resolver esse problema, visitar o cliente tal, passar no banco, conferir a amostra que provavelmente estará  errada,  ligar para fulano... Tomo banho tentando planejar como vou fazer tudo isso, e em vez de organizar mentalmente as atividades do dia, me aparecem mais atividades que não lembrei  antes, assim toma força o pensamento que não vou conseguir fazer tudo no dia, ainda mais estando atrasado, e ai; a ansiedade toma o controle.

Estou mais ansioso, remoendo tudo o que tenho a fazer no dia e um pouco irritado por estar atrasado. A irritação não é pelo atraso em si, mas pelo fato de tomar café correndo; eu tenho um ritual pela manhã e se não o faço, meu dia não começa bem. Tomo pelo menos três cafés expressos (já diminui em 2/3 a dose matinal) enquanto olho futilidades no computador, nesses quinze ou vinte minutos que fico alheio à realidade, sou capaz de relaxar, mesmo que por apenas quinze minutos. Assim, preparo meu primeiro expresso e vou para o computador; toca o celular; só o barulho da chamada já me irrita, levantar para pegar o celular, me irrita mais, ver que é o chefe ligando, fico irritadíssimo, atender o telefone e ter que ficar parado para não cair a ligação, chega a dar uns tiques, dá a impressão que todos os músculos do corpo vão explodir. Durante a conversa, cada pedido que ele me fazia, trazia um pouco da ansiedade de antes e misturava com a irritabilidade de agora e a cada pedido que ele fazia e eu tinha de explicar por que não daria certo, eu lhe deixava bem claro o meu grau de irritabilidade.

Preparo o segundo café em um estado de ansiedade e irritabilidade altíssimo. Bebendo o café, olho qualquer coisa no computador, abstraio-me levemente da realidade e já vejo as tarefas do dia sem tanta ansiedade, a tensão vai diminuindo. Quando estou no terceiro café e sem dar-me conta, me deparo catatônico, imóvel, olhando fixamente a tela do computador, sem perceber as bolhas do protetor de tela, que já se movem a um bom tempo. Meu corpo está estático, mas os pensamentos estão viajando,  a caminho da terra do poderia ser. Penso sobre um fato recente, que abala meu humor muito negativamente;  continuo com esse pensamento negativo por alguns minutos, o tempo suficiente para que a luta entre, os pensamentos negativos e involuntários, contar os pensamentos moderadores e voluntários seja ganha pelos primeiros. A partir de agora, a agitação da ansiedade cedeu o lugar à apatia da melancolia.

Permaneço mais um tempo sentado a frete do computador e aquela ansiedade de como fazer tudo, vai dar tempo, vou conseguir, agora se traduz como tanto faz. Saio de casa com o pensamento de cumprir a missão e regressar o mais rápido possível; funciona assim, se tenho que retirar uma amostra, vou até o lugar que amostra está, falo o mínimo necessário e vou para o próximo destino. O normal seria conversar com quem desenvolveu, ver os outros desenvolvimentos em que fase estão,  fazer uma media como o dono e etc., mas hoje, para abrir um simples sorriso, que geralmente vem fácil, tenho que me esforçar e botar conversa fora esta além das minhas capacidades. Enquanto dirijo tampouco presto atenção no rádio, ou na rua, fico como em casa, com os pensamentos longe da realidade. Enfim, consigo cumprir todas as obrigações do dia, coisa que pela manhã parecia impossível e ainda cheguei em casa um pouco mais cedo, tudo que eu queria quando sai, voltar o mais rápido possível.

Já em casa, aquela pressa para voltar não se justificativa, não havia nada para fazer, ninguém me aguardava, era exclusivamente pela sensação de proteção que o lar traz. Continuava cabisbaixo da mesma forma de quando sai, mas agora em casa, sozinho, sem nenhuma distração, os pensamentos negativos fluem com mais facilidade. Só enxergava uma maneira para escapar deste tormento, desta melancolia e terminar logo com este dia, precisava dormir. Já fazia um mês que havia começado a correr, sendo que muitas vezes corria na esteira, em casa, assistindo séries no Netflix, no caso Hannibal. Comecei a correr, depois de pouco tempo, me sentia bem, decidi aumentar o ritmo, continuei correndo com facilidade, mantive o ritmo acelerado, acabou o episódio, mais ou menos quarenta minutos, troquei para a tv aberta, passava o programa Cidade Alerta, corri mais vinte minutos, acabou o fôlego, mas sobrou um sorriso no rosto, me sentia leve, revigorado, em paz.

A ideia inicial era correr, tomar banho, comer e dormir, afinal, a corrida tinha o intuito de cansar-me para dormir, terminando assim um dia em nada bom, mas, não foi bem assim; antes do banho, resolvi arrumar uns cômodos da casa, que fazia meses estavam bagunçados. Gosto das coisas organizadas, mas o ânimo e a energia para organiza-las, é escasso em mim, algo muito raro; mas agora era a hora, ao som da banda Ira!, arrumei três quartos da casa. Depois, que sensação agradável, ficar parado, admirando tão grande façanha! Terminada a arrumação fui tomar banho, continuei escutando Ira! e me chamou atenção a musica Milhas e milhas, que depois ouvi algumas vezes na sequência.

A próxima etapa depois do banho seria comer e mesmo aquela fome, comum após exercícios físicos havia passado, estava sem fome, mas bastante irrequieto, precisava fazer algo; coloquei umas roupas para lavar e enquanto as roupas lavavam, por que não arrumar a cozinha. Nesse momento eu não tinha ideia do que eu estava fazendo, mais tarde, pelas duas da manhã, eu tinha arrumado a casa inteira e lavado três maquinadas de roupa, fora os episódios de Lie to me que assisti, pois não tinha sono. Pode não parecer muito, mas para eu lavar uma cesta de roupas e depois estender, preciso estar muito bem disposto, só de pensar em estender as roupas já me desanima. Enfim dormi umas seis horas e o dia seguinte foi um dia sem oscilações do humor, vai entender...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Frases ao léu - IV

"Em vez de sentir empatia por sua dor, que certamente era tão grande quanto a minha – ou mesmo maior –, encarei seu sofrimento como uma afronta, um sinal de que ela não podia mais tolerar o quão debilitada eu ficara por causa da doença."

Insana – Susannah Cahalan

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Insana no carnaval

Carnaval, nunca entendi a alegria dessas pessoas que aparecem na televisão, mas me alegra o feriado, o não fazer nada; assim vou, sem nenhum sinal de mania, longe da hipomania, tampouco depressivo, ansiedade zero e para completar, também parei de beber. Ah, também não estou dopado, tomo 300mg Wellbutrin e 1200mg Carbolitium para 0,6 mEq/L. Muito "louco" me sentir assim, será que é a essa sensação,  que muitos se referem, dizendo que os remédios os deixam "robotizados", "sem vida"?  – Me sinto bem. Sempre busquei novidades e isso é uma grande novidade.

Lá estou, esperando o tempo passar na livraria do aeroporto e por acaso acho o livro "Insana, meu mês de loucura da Susannah Cahalan"  que me chamou a atenção primeiramente pela similaridade da capa com a do livro "Uma mente inquieta da Kay Redfield Jamison" e depois de ler a contracapa me decidi a compra-lo; gosto de narrativas sobre a própria pessoa e o tema superação de doenças mentais tem me atraído.



      



O livro Uma mente inquieta, fala como a autora, que tornou-se uma autoridade sobre a doença,  lutou durante a vida, contra a psicose maníaco-depressiva, termo que ela prefere por não suavizar a real realidade da doença. Excelente livro.

Já o livro Insana, conta a historia de uma jornalista que subitamente começa a apresentar diversos sintomas como psicoses, mudanças bruscas de humor, mania perseguição, tiques, problemas na fala, convulsões... O ponto central do livro é: - A doença que sofre a autora deve ser tratada pela psiquiatria ou deve-se buscar a resposta em outras áreas? Muito bom este livro.

Esse é o ponto onde queria chegar, sendo a bipolaridade uma doença inflamatória, estamos longe da cura tratando-a como doença psiquiátrica ao invés de tratar a inflamação?

Para ter uma ideia da sutileza entre um tipo de tratamento e outro, o livro Insana é bem interessante. Como já terminei o livro, vou curtir o finzinho do carnaval, uhu... :)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Frases ao léu - III

"Um incerto e tênue raio de sol filtrava-se, pelas pequenas vidraças, sobre a mesa e as cartas; caprichoso e sem forças, brincava no soalho com as pálidas sombras e turbilhonava contra o teto da sala, rebocado de azul. Knulp, na verdade, apreendeu tudo isso com os olhos luzentes: a dança do sol de fevereiro, a silenciosa paz da casa, o sério e laborioso semblante de operário de seu amigo e os olhares disfarçados da bonita mulher. Não lhe agradou, não constituía para ele um alvo de vida, nem representava felicidade. Estivesse com saúde, pensou ele, e fosse verão, não ficaria ali nem mais uma hora."

Knulp – Hermann Hesse

Pretérito Imperfeito - I


A long time ago, in a galaxy far, far away… Eu namorava uma garota, que dentre todas as namoradas que tive, era a mais querida, anos luz a frente. Nosso namoro durou por volta de três anos, tudo dava certo, a família dela me adorava assim como a minha família à ela, não tínhamos ciúmes um do outro, saiamos sozinhos de vez em quando, viajamos bastante, nos amávamos e na época eu nem desconfiava ser bipolar, mas ela sabia levar meu mal humor e irritabilidade sem entrar no clima de briga, na boa.

Pois bem, tudo era perfeito, até o dia em que do nada e sem motivo verdadeiro decidi que não era mais.

Era carnaval, havíamos ido para a casa de praia da família dela e convidamos um casal de amigos para irem junto conosco. Nos primeiros dias tudo andou perfeitamente, todos estavam se divertindo; até que no terceiro dia, eu decidi, não poderia esperar terminar o carnaval, tinha que ser naquele momento. Chamei minha namorada e lhe disse de forma direta:

 – Nosso namoro terminou, não te amo mais!

Ela, sem conseguir processar a quantidade de informações e não entender o motivo da minha reação impulsiva, caiu em uma crise de choro. Eu, já não podia fazer nada, tinha tomado minha decisão. As outras pessoas na casa tampouco sabiam o que acontecia e muito menos o que fazer. Com exceção daquele amigo que veio conosco, ele tentou botar panos quentes para ver se conseguia acalmar a situação, mas eu estava agora extremamente nervoso, não lhe dei ouvidos e sai de casa rumo à casa de outro amigo em uma praia vizinha.

(Antes de decidir que terminaria naquele momento, os pensamentos que passaram pela minha cabeça eram do tipo: nosso relacionamento esta monótono, quero alguém mais extravagante; ela era bonita mas eu queria alguém mais bonito;  ela era atraente mas eu queria alguém mais atraente; e se eu quero isso, que seja agora, não vou ficar me enganando e enganado a ela.)

Chegando nessa outra praia, encontrei meu amigo e sua namorada que pouco me perguntaram sobre o ocorrido. Eu já estava mais calmo, com a sensação que tinha tomado à atitude correta. Nessa noite bebemos exageradamente e fomos dormir, coisa de alguns minutos, pois recém havíamos deitado e a criançada que havia na casa nos acordou.

Nesse mesmo dia, voltei à casa da agora minha ex-namorada para que fossemos embora da praia. Ela estava pior que no dia anterior, chorava muito e não entendia o por que. Já meus amigos, voltaram de ônibus, estraguei o feriado deles e meu amigo ficou um bom tempo sem falar comigo, sua namorada não queria me ver nem morto.

A volta, foi uma viagem angustiante, tentei acalma-la, explicar que eu tinha tomado a decisão, e ela a vigem inteira chorando, numa tristeza que durou alguns meses. Por fim, deixei ela na casa de seus pais e expliquei que havíamos terminado.


PS. Hoje tenho uma boa amizade com minha ex-namorada e a amizade e camaradagem com esse casal de amigos, está da mesma  forma de antes do ocorrido.


Esta doença é cruel com todos. Antes dela ser conhecida, vivemos na escuridão e causamos dano a nós mesmos e aos outros, que geralmente são as pessoas mais próximas e queridas a nós. Agradeço por hoje ter consciência do transtorno bipolar, conhecer suas manifestações e estar estável com a medicação.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Frases ao léu - II

"Que grande miséria é viver numa terra em que sempre havemos de andar como quem tem os inimigos à porta e não pode dormir nem comer senão armado, em contínuo sobressalto, pelo temor de que por alguma brecha lhe arrombem a fortaleza!"
Castelo interior ou Moradas - Santa Teresa de Jesus

Pensamentos recorrentes


Estou passando por uma situação problemática, que está longe de ser resolvida, sendo que, nessa semana preciso dar um passo, com a intenção de encaminhar sua resolução.  Devido à importância que está questão tem em minha vida, algumas vezes ao dia, caio em pensamentos referentes ao assunto e esses pensamentos de uma forma leve, (hoje em dia, em um passado próximo seriam extremos ao ponto de leves psicoses) me trazem sentimentos de ansiedade, raiva, irritação, frustração, excitação, depressão.

Parei para pensar por um tempo, o porquê desses sentimentos aflorarem, quando caio em pensamentos automáticos sobre a questão acima. Cheguei as seguintes causas para esses sentimentos:


  • Desejo de controle da situação:
    • Achar que sabe mais que os outros;
    • Depende de outras pessoas?;
    • Deixar que ajam sem interferência, se for o caso, corrige-se depois;
    • Inúmeras vezes em que tentei impor meu ponto de vista, acabou não saindo nada, terminou em desavença;
    • Perda de tempo ficar imaginando as reações e atitudes dos outros;
    • Cada coisa tem seu tempo, não depende da minha vontade;

  • Desejo de justiça:
    • Cada pessoa possui sua própria justiça. Para mim, meu ponto de vista é justo, já para o outro o seu ponto de vista é justo;
    • Não é valida a expressão; Eu nunca faria isso...
    • Não faz sentido ficar ressentido por algo que outra pessoa fez;
    • Esperar que os outros adivinhem e acatem nossos desejos;


  • Desejo de vingança:
    • Retribuir o dano que o outro me causou;
    • Permiti que me causassem dano?
    • Ganho algo causando dano ao outro;
    • Demonstrar que sou mais forte;
    • Fazer "justiça"????????


Neste caso, percebi como a causa de tudo ser a necessidade de controle, como não é possível ter controle sobre coisas que não dependam só de nos e mesmo nas que dependem, existem outras variáveis, ai, me sinto injustiçado e como a justiça é relativa, termino resignado com o pensamento de vingança.

Esse tipo de analise que faço sobre questões que me acontecem no dia a dia, não necessariamente sobre pensamentos, me tranquiliza e muitas vezes me ajuda a ver uma situação de maneira diferente. Mas não vou dizer que eliminam os sentimentos "negativos" relatados no começo, muitas vezes, essa analise serve como defesa para pensamentos recorrentes, desses que nos atacam algumas vezes por dia e por dias, quando o pensamento aparece, já refletimos sobre ele, ficando mais fácil neutraliza-lo...


Como fazer para mudar isso? Como saber de onde vem isso? Ainda não sei...


domingo, 17 de janeiro de 2016

Frases ao léu - I

"O que faz tremer a criança nada é para o adulto. A criança ignora o que seja o horrível, o homem sabe e treme. O defeito da infância está, em primeiro lugar,  em não conhecer o horrível, e em seguida, devido a sua ignorância, em tremer pelo que não é para fazer tremer."

O desespero humano – Søren Kierkegaard

Quem fica feliz por descobrir que é bipolar?

No dia em que o médico me diagnosticou com TAB, eu já tinha certeza que era bipolar. Depois de um episódio de mania que não terminou bem, ficou evidente o diagnostico. Credito o diagnostico ao fato do episódio maníaco com surto psicótico ter um desfecho que incluiu entre outras coisas, delegacia e internação. Caso esse episódio terminasse sem maiores complicações e estardalhaços, como ocorreu em casos passados e hoje sou capaz de ver, acredito que não teria consciência de ser bipolar, continuaria pensando ter apenas depressão e um temperamento forte.

Dado o diagnostico e algumas explicações, o médico parou de falar por um instante e eu lhe disse:

- Estou feliz em saber o diagnostico!

Um olhar do médico e continuei:

- Hoje olho para o passado e sei exatamente que em certas situações, eu estava em hipomania ou mania e tive sorte que só agora, nesse último episódio ter tido consequências negativas,  sendo que, nos episódios anteriores corri sério risco de morte.

Terminou por ai a conversa, já estava no final da consulta.

Já em casa parei para pensar, por que fiquei feliz com o diagnostico?

Sem saber que eu era bipolar, só me restava agir em função dos meus humores, para mim minhas reações pareciam normais; meus atos impulsivos tinham sentido, os outros que eram lentos, viviam me provocando e se eu tinha razão, por que ficavam bravos ao invés de aceitarem? Poxa, eu era o cara :)

Recebendo o diagnostico e ficando feliz, eu estava dizendo a mim mesmo que agora eu seria capaz de mudar alguma coisa, tomar o controle sobre algo que eu nunca tive. Em nenhum momento fique angustiado ou perturbado com o fato de ser uma doença sem cura e que necessita tratamento pelo resto da vida. Agora eu sei como funciono e fico feliz com isso.

Hipótese: Se eu tivesse recebido o diagnostico com tristeza ou não o aceitasse,  duas coisas; eu estaria em uma fase depressiva, onde não veria solução para a doença ou não enxergaria episódios graves de mania no passado, que me preocupassem.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Ainda sobre justiça

Folheando um livro que está na fila de espera para a leitura, me deparei com um capitulo; "A armadilha da justiça." O livro é: Seus pontos fracos do Dr. Wayle W. Dyer.

O livro continua na fila, li somente o capitulo citado e me causou uma boa impressão a respeito do restante do livro. Começa assim:
        
        "Somos condicionados a procurar justiça na vida e, quando ela não aparece, tendemos a sentir raiva, ansiedade ou frustração. Na verdade, seria igualmente produtivo procurar a fonte da juventude, ou algum mito semelhante. A justiça não existe. Nunca existiu, nem nunca existirá. O mundo simplesmente não funciona dessa maneira."

Não sou muito bom em resenhas, deixo a capa e contracapa a quem interessar. 




Ah, o livro que comecei a ler é o Solilóquios e A vida feliz de Santo Agostinho.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Instinto de agressão frente à injustiça

Pensando sobre uma injustiça que sofri no passado (processo civil), uma serie de mentiras que causaram certo dano, percebi que imediatamente fui tomado por um sentimento de vingança. Para as mentiras, haviam provas físicas que as desmascarariam facilmente mas eu queria mais, queria atacar o "oponente", lhe causar mais dano do que ele foi capaz de me causar com suas mentiras. Não bastava expô-lo como mentiroso, era necessário deixar evidentes suas fraquezas e trazer a luz seus comportamentos obscuros.

Imediatamente após ter ciência das falsas acusações comecei a reunir provas físicas, vasculhando arquivos de anos passados num frenesi onde não sentia fome nem sono. Junto à coleta de provas que desmascarassem as mentiras colhia informações com o intuito de expor as fraquezas do "adversário" e criava diálogos imaginários de como seriam as situações na hora em que estivéssemos frente a frente.

O tempo entre o conhecimento do processo, a defesa e o julgamento foi de aproximadamente seis meses. Durante esse tempo, essas atitudes de ficar imaginado situações futuras e sentindo-se impotente perante as falsas acusações foram aumentando, ocupando a totalidade dos dias e consequentemente desencadearam sintomas depressivos e ansiosos que me dá calafrios, agora enquanto escrevo.

Durante esse tempo, não consegui trabalhar direito, saia de casa pensando em fazer somente o necessário, o mais rápido possível e voltar pra casa. Em casa era consumido pela ansiedade e pela depressão; TOC, ansiedade generalizada, alguns apertos no peito e coração acelerado que lembrava a síndrome do pânico, ataques de choro, irritabilidade ao extremo, leves sintomas psicóticos, sentimento de inferioridade, falta de apetite, dormia no máximo 4 horas por noite e já acordava acelerado pensando em situações futuras... Isso foi o Inferno na Terra!

Hoje, me encontro em similar situação (processo civil), processo esse baseado em inverdades, como o anterior. A vontade de contra-atacar e tomar as mesmas atitudes da situação anterior é automática, mas lembro-me também do sofrimento que passei. Quero quebrar esse ciclo!

Decidi que só me defenderei no ponto principal do processo e ignorarei as partes onde sou acusado de atitudes que seriam facilmente atribuídas ao acusador. Posso aguentar quieto certas injurias que ficarão só ali, não interferirão no resultado final e foram postas com o intuito único de machucar. Não levo mais a sério quando me chamam de bobo e feio :) Mas os pensamentos automático de revide estão sempre a espreita, tenho que tomar muito cuidado para não ceder. 

De um tempo para cá, sempre tenho em mente: Em que isso interferirá na minha vida? Isso depende só de mim ou de mais alguém? Cortar o ciclo de pensamentos no futuro, quando chegar a hora, resolvo. Encarar a vergonha, afinal todos cometemos deslizes.