quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Frases ao léu - III

"Um incerto e tênue raio de sol filtrava-se, pelas pequenas vidraças, sobre a mesa e as cartas; caprichoso e sem forças, brincava no soalho com as pálidas sombras e turbilhonava contra o teto da sala, rebocado de azul. Knulp, na verdade, apreendeu tudo isso com os olhos luzentes: a dança do sol de fevereiro, a silenciosa paz da casa, o sério e laborioso semblante de operário de seu amigo e os olhares disfarçados da bonita mulher. Não lhe agradou, não constituía para ele um alvo de vida, nem representava felicidade. Estivesse com saúde, pensou ele, e fosse verão, não ficaria ali nem mais uma hora."

Knulp – Hermann Hesse

Pretérito Imperfeito - I


A long time ago, in a galaxy far, far away… Eu namorava uma garota, que dentre todas as namoradas que tive, era a mais querida, anos luz a frente. Nosso namoro durou por volta de três anos, tudo dava certo, a família dela me adorava assim como a minha família à ela, não tínhamos ciúmes um do outro, saiamos sozinhos de vez em quando, viajamos bastante, nos amávamos e na época eu nem desconfiava ser bipolar, mas ela sabia levar meu mal humor e irritabilidade sem entrar no clima de briga, na boa.

Pois bem, tudo era perfeito, até o dia em que do nada e sem motivo verdadeiro decidi que não era mais.

Era carnaval, havíamos ido para a casa de praia da família dela e convidamos um casal de amigos para irem junto conosco. Nos primeiros dias tudo andou perfeitamente, todos estavam se divertindo; até que no terceiro dia, eu decidi, não poderia esperar terminar o carnaval, tinha que ser naquele momento. Chamei minha namorada e lhe disse de forma direta:

 – Nosso namoro terminou, não te amo mais!

Ela, sem conseguir processar a quantidade de informações e não entender o motivo da minha reação impulsiva, caiu em uma crise de choro. Eu, já não podia fazer nada, tinha tomado minha decisão. As outras pessoas na casa tampouco sabiam o que acontecia e muito menos o que fazer. Com exceção daquele amigo que veio conosco, ele tentou botar panos quentes para ver se conseguia acalmar a situação, mas eu estava agora extremamente nervoso, não lhe dei ouvidos e sai de casa rumo à casa de outro amigo em uma praia vizinha.

(Antes de decidir que terminaria naquele momento, os pensamentos que passaram pela minha cabeça eram do tipo: nosso relacionamento esta monótono, quero alguém mais extravagante; ela era bonita mas eu queria alguém mais bonito;  ela era atraente mas eu queria alguém mais atraente; e se eu quero isso, que seja agora, não vou ficar me enganando e enganado a ela.)

Chegando nessa outra praia, encontrei meu amigo e sua namorada que pouco me perguntaram sobre o ocorrido. Eu já estava mais calmo, com a sensação que tinha tomado à atitude correta. Nessa noite bebemos exageradamente e fomos dormir, coisa de alguns minutos, pois recém havíamos deitado e a criançada que havia na casa nos acordou.

Nesse mesmo dia, voltei à casa da agora minha ex-namorada para que fossemos embora da praia. Ela estava pior que no dia anterior, chorava muito e não entendia o por que. Já meus amigos, voltaram de ônibus, estraguei o feriado deles e meu amigo ficou um bom tempo sem falar comigo, sua namorada não queria me ver nem morto.

A volta, foi uma viagem angustiante, tentei acalma-la, explicar que eu tinha tomado a decisão, e ela a vigem inteira chorando, numa tristeza que durou alguns meses. Por fim, deixei ela na casa de seus pais e expliquei que havíamos terminado.


PS. Hoje tenho uma boa amizade com minha ex-namorada e a amizade e camaradagem com esse casal de amigos, está da mesma  forma de antes do ocorrido.


Esta doença é cruel com todos. Antes dela ser conhecida, vivemos na escuridão e causamos dano a nós mesmos e aos outros, que geralmente são as pessoas mais próximas e queridas a nós. Agradeço por hoje ter consciência do transtorno bipolar, conhecer suas manifestações e estar estável com a medicação.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Frases ao léu - II

"Que grande miséria é viver numa terra em que sempre havemos de andar como quem tem os inimigos à porta e não pode dormir nem comer senão armado, em contínuo sobressalto, pelo temor de que por alguma brecha lhe arrombem a fortaleza!"
Castelo interior ou Moradas - Santa Teresa de Jesus

Pensamentos recorrentes


Estou passando por uma situação problemática, que está longe de ser resolvida, sendo que, nessa semana preciso dar um passo, com a intenção de encaminhar sua resolução.  Devido à importância que está questão tem em minha vida, algumas vezes ao dia, caio em pensamentos referentes ao assunto e esses pensamentos de uma forma leve, (hoje em dia, em um passado próximo seriam extremos ao ponto de leves psicoses) me trazem sentimentos de ansiedade, raiva, irritação, frustração, excitação, depressão.

Parei para pensar por um tempo, o porquê desses sentimentos aflorarem, quando caio em pensamentos automáticos sobre a questão acima. Cheguei as seguintes causas para esses sentimentos:


  • Desejo de controle da situação:
    • Achar que sabe mais que os outros;
    • Depende de outras pessoas?;
    • Deixar que ajam sem interferência, se for o caso, corrige-se depois;
    • Inúmeras vezes em que tentei impor meu ponto de vista, acabou não saindo nada, terminou em desavença;
    • Perda de tempo ficar imaginando as reações e atitudes dos outros;
    • Cada coisa tem seu tempo, não depende da minha vontade;

  • Desejo de justiça:
    • Cada pessoa possui sua própria justiça. Para mim, meu ponto de vista é justo, já para o outro o seu ponto de vista é justo;
    • Não é valida a expressão; Eu nunca faria isso...
    • Não faz sentido ficar ressentido por algo que outra pessoa fez;
    • Esperar que os outros adivinhem e acatem nossos desejos;


  • Desejo de vingança:
    • Retribuir o dano que o outro me causou;
    • Permiti que me causassem dano?
    • Ganho algo causando dano ao outro;
    • Demonstrar que sou mais forte;
    • Fazer "justiça"????????


Neste caso, percebi como a causa de tudo ser a necessidade de controle, como não é possível ter controle sobre coisas que não dependam só de nos e mesmo nas que dependem, existem outras variáveis, ai, me sinto injustiçado e como a justiça é relativa, termino resignado com o pensamento de vingança.

Esse tipo de analise que faço sobre questões que me acontecem no dia a dia, não necessariamente sobre pensamentos, me tranquiliza e muitas vezes me ajuda a ver uma situação de maneira diferente. Mas não vou dizer que eliminam os sentimentos "negativos" relatados no começo, muitas vezes, essa analise serve como defesa para pensamentos recorrentes, desses que nos atacam algumas vezes por dia e por dias, quando o pensamento aparece, já refletimos sobre ele, ficando mais fácil neutraliza-lo...


Como fazer para mudar isso? Como saber de onde vem isso? Ainda não sei...


domingo, 17 de janeiro de 2016

Frases ao léu - I

"O que faz tremer a criança nada é para o adulto. A criança ignora o que seja o horrível, o homem sabe e treme. O defeito da infância está, em primeiro lugar,  em não conhecer o horrível, e em seguida, devido a sua ignorância, em tremer pelo que não é para fazer tremer."

O desespero humano – Søren Kierkegaard

Quem fica feliz por descobrir que é bipolar?

No dia em que o médico me diagnosticou com TAB, eu já tinha certeza que era bipolar. Depois de um episódio de mania que não terminou bem, ficou evidente o diagnostico. Credito o diagnostico ao fato do episódio maníaco com surto psicótico ter um desfecho que incluiu entre outras coisas, delegacia e internação. Caso esse episódio terminasse sem maiores complicações e estardalhaços, como ocorreu em casos passados e hoje sou capaz de ver, acredito que não teria consciência de ser bipolar, continuaria pensando ter apenas depressão e um temperamento forte.

Dado o diagnostico e algumas explicações, o médico parou de falar por um instante e eu lhe disse:

- Estou feliz em saber o diagnostico!

Um olhar do médico e continuei:

- Hoje olho para o passado e sei exatamente que em certas situações, eu estava em hipomania ou mania e tive sorte que só agora, nesse último episódio ter tido consequências negativas,  sendo que, nos episódios anteriores corri sério risco de morte.

Terminou por ai a conversa, já estava no final da consulta.

Já em casa parei para pensar, por que fiquei feliz com o diagnostico?

Sem saber que eu era bipolar, só me restava agir em função dos meus humores, para mim minhas reações pareciam normais; meus atos impulsivos tinham sentido, os outros que eram lentos, viviam me provocando e se eu tinha razão, por que ficavam bravos ao invés de aceitarem? Poxa, eu era o cara :)

Recebendo o diagnostico e ficando feliz, eu estava dizendo a mim mesmo que agora eu seria capaz de mudar alguma coisa, tomar o controle sobre algo que eu nunca tive. Em nenhum momento fique angustiado ou perturbado com o fato de ser uma doença sem cura e que necessita tratamento pelo resto da vida. Agora eu sei como funciono e fico feliz com isso.

Hipótese: Se eu tivesse recebido o diagnostico com tristeza ou não o aceitasse,  duas coisas; eu estaria em uma fase depressiva, onde não veria solução para a doença ou não enxergaria episódios graves de mania no passado, que me preocupassem.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Ainda sobre justiça

Folheando um livro que está na fila de espera para a leitura, me deparei com um capitulo; "A armadilha da justiça." O livro é: Seus pontos fracos do Dr. Wayle W. Dyer.

O livro continua na fila, li somente o capitulo citado e me causou uma boa impressão a respeito do restante do livro. Começa assim:
        
        "Somos condicionados a procurar justiça na vida e, quando ela não aparece, tendemos a sentir raiva, ansiedade ou frustração. Na verdade, seria igualmente produtivo procurar a fonte da juventude, ou algum mito semelhante. A justiça não existe. Nunca existiu, nem nunca existirá. O mundo simplesmente não funciona dessa maneira."

Não sou muito bom em resenhas, deixo a capa e contracapa a quem interessar. 




Ah, o livro que comecei a ler é o Solilóquios e A vida feliz de Santo Agostinho.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Instinto de agressão frente à injustiça

Pensando sobre uma injustiça que sofri no passado (processo civil), uma serie de mentiras que causaram certo dano, percebi que imediatamente fui tomado por um sentimento de vingança. Para as mentiras, haviam provas físicas que as desmascarariam facilmente mas eu queria mais, queria atacar o "oponente", lhe causar mais dano do que ele foi capaz de me causar com suas mentiras. Não bastava expô-lo como mentiroso, era necessário deixar evidentes suas fraquezas e trazer a luz seus comportamentos obscuros.

Imediatamente após ter ciência das falsas acusações comecei a reunir provas físicas, vasculhando arquivos de anos passados num frenesi onde não sentia fome nem sono. Junto à coleta de provas que desmascarassem as mentiras colhia informações com o intuito de expor as fraquezas do "adversário" e criava diálogos imaginários de como seriam as situações na hora em que estivéssemos frente a frente.

O tempo entre o conhecimento do processo, a defesa e o julgamento foi de aproximadamente seis meses. Durante esse tempo, essas atitudes de ficar imaginado situações futuras e sentindo-se impotente perante as falsas acusações foram aumentando, ocupando a totalidade dos dias e consequentemente desencadearam sintomas depressivos e ansiosos que me dá calafrios, agora enquanto escrevo.

Durante esse tempo, não consegui trabalhar direito, saia de casa pensando em fazer somente o necessário, o mais rápido possível e voltar pra casa. Em casa era consumido pela ansiedade e pela depressão; TOC, ansiedade generalizada, alguns apertos no peito e coração acelerado que lembrava a síndrome do pânico, ataques de choro, irritabilidade ao extremo, leves sintomas psicóticos, sentimento de inferioridade, falta de apetite, dormia no máximo 4 horas por noite e já acordava acelerado pensando em situações futuras... Isso foi o Inferno na Terra!

Hoje, me encontro em similar situação (processo civil), processo esse baseado em inverdades, como o anterior. A vontade de contra-atacar e tomar as mesmas atitudes da situação anterior é automática, mas lembro-me também do sofrimento que passei. Quero quebrar esse ciclo!

Decidi que só me defenderei no ponto principal do processo e ignorarei as partes onde sou acusado de atitudes que seriam facilmente atribuídas ao acusador. Posso aguentar quieto certas injurias que ficarão só ali, não interferirão no resultado final e foram postas com o intuito único de machucar. Não levo mais a sério quando me chamam de bobo e feio :) Mas os pensamentos automático de revide estão sempre a espreita, tenho que tomar muito cuidado para não ceder. 

De um tempo para cá, sempre tenho em mente: Em que isso interferirá na minha vida? Isso depende só de mim ou de mais alguém? Cortar o ciclo de pensamentos no futuro, quando chegar a hora, resolvo. Encarar a vergonha, afinal todos cometemos deslizes.